Educação e Discriminação

30/10/2014 08:00

A educação pública foi um dos temas mais tratados durante a última campanha eleitoral para a presidência da República. Lógico que quando se debate sobre políticas públicas para a educação o objetivo é atender às camadas menos favorecidas da sociedade. A "polarização entre ricos e pobres" não é suficiente para explicar as demonstrações de discriminação contra os nordestinos, imputadas por parte da população do sul e do sudeste. Esse comportamento teve como resultado as manifestações ofensivas divulgadas nas redes sociais mas, com certeza, as suas origens são mais complexas e históricas, tendo a educação da rede privada uma parcela dessa responsabilidade.

Partindo do pressuposto que a discriminação partiu dos mais abastados, já que o nordeste é visto como pobre e atrasado, constata-se que esse comportamento se disseminou, principalmente, entre alunos da rede privada. Sendo assim, alguns questionamentos são pertinentes: escolas particulares, que incentivam tanto a competição e os resultados na aprovação do vestibular, estão esquecendo que é necessário trabalhar a ideia de divergência política dentro da concepção de uma democracia mais igualitária? Será que os direitos humanos são discutidos plenamente, principalmente na área das ciências humanas?

O mercado da educação é extremamente competitivo e vive de resultados. As famílias economicamente privilegiadas pressionam e exigem que seus filhos sejam aprovados no ano letivo, já que o investimento é alto, e o resultado final com o sucesso da aprovação no vestibular. Nesse quadro os professores são os mais exigidos, não cabendo muito tempo para discussões críticas sobre temas "secundários", como por exemplo: direitos humanos, discriminação e preconceito. Abordar questões políticas, extremamente complicado, pode desagradar pais que pagam as mensalidades e que não têm interesse que seus filhos conheçam as veradeiras ideias de determinados grupos políticos. Será que em São Paulo, mais específicamente, esses alunos entendem a República Velha como um período verdadeiramente democrático? Ou a "Revolução de 1932" como claramente constitucionalista? O coronelismo, mais forte no dito nordeste atrasado, não foi um fenômeno incentivado pela conhecida República do Café com Leite, para manter a desigualdade social e os privilégios econômicos e políticos do sudeste? Enumerar motivos para a construção histórica dos graves problemas enfrentados pelos nordestinos demandaria um texto infindável.

Mesmo detectando diferenças radicais entre a educação privada e a pública, percebendo manifestações reprováveis de discriminação contra nordestinos e pobres, nota-se um ponto positivo nesse dilema: a ampliação da discussão política fortalecida pelas redes sociais. Numa sociedade de classes esses embates existem e existirão. Os interesses divergentes permanecem, mesmo com todo o discurso neoliberal de tentar desconstruir abismos entre camadas sociais, em alguns casos, bem distantes. A ideia que a globalizalização levaria benefícios e progresso para todos se autodestruiu. 

A queda do comunismo e o fim da Guerra Fria foram acompanhados do esvaziamento dos debates políticos e da militância. Quem não lembra do Sindicalismo de Resultados ou da ideia que trabalhador deixava de ser empregado para ser "colaborador"? E no campo musical, tendo que ouvir bandas como "Ultraje a Rigor", um verdadeiro ultraje aos nossos ouvidos.

Mudanças nunca se deram a partir de discursos ou de pregações que vêm de cima para baixo. A sociedade é dinâmica e as tranformações ocorrem a partir de relações econômicas, políticas e sociais concretas.