A Morte é uma Festa

20/08/2014 22:37

Depois de observar o comportamento de Marina Silva no velório de Eduardo Campos, veio a lembrança de
um excelente texto do grande professor e historiador João José Reis: O Cotidiano da Morte no Brasil Oitocentista.* O artigo trata de como os habitantes do Brasil oitocentista encaravam a morte, seus medos, suas crenças enfim, como lidavam com a expectativa de uma passagem para outra vida e o temor de ser condenado ao caminho do inferno.

Outro ponto interessante da obra é quando o autor comenta sobre o que ele denominou de "funerais-festas". Aí
entra a senhora Marina Silva. Segundo ele, "os brasileiros faziam da participação nessas cerimônias obrigação de fé, se não um dos passatempos prediletos, conforme o testemunho dos viajantes estrangeiros, os quais,
preconceituosos, principalmente os protestantes, esquecidos de que em seus países um dia a morte fora assim celebrada, viam naquilo indício de atraso brasileiro ou superstição católica". Não creio que Marina estivesse naquele velório acreditando ser uma obrigação de fé; menor ainda é a ideia de que estivesse ali como um mero  passatempo, mas sim, como uma evidente oportunidade de tirar proveito político num momento completamente inconveniente.

Lembrando ainda do largo sorriso da Marina**, lembro-me também de que os velórios do século XIX pareciam grandes festas regadas a muita bebida, comida e música. Era uma celebração, já que o morto estava saindo dessa para uma melhor, então para que tristeza? Esse contexto não se aplica ao século XXI e muito menos ao caso da morte de Eduardo Campos, sinônimo de dor para a sua família e para inúmeros brasileiros que o
admiravam.

A presença da candidata Marina se deu muito mais pelos seus interesses políticos e "magnitude" do evento, que por qualquer sentimento humanitário. Essa "magnitude" que me referi lembra a importância dada a esses ritos funerários no século XIX, não só como uma questão de respeito à família do falecido, mas também, como uma forma de estar presente num evento "inesquecível", digno de colunas sociais. Aqui, no caso, colunas políticas.


* História da vida privada no Brasil: Império / coordenador geral da coleção Fernando A. Novais; organizador do volume Luiz Felipe de Alencastro - São Paulo: Companhia das Letras, 1997 - (História da vida privada no Brasil; 2)

**Foto publicada na galeria deste site.